Museu Virtual da Válvula Eletrónica |
Memórias |
Memórias das novas tecnologias dos anos 40
A primeira Emissora de Rádio na Ilha Terceira, Açores
A “barraca” onde funcionava o emissor de rádio, situava-se na Base das Lajes perto do local onde hoje estão instalados os Correios e o célebre hipermercado americano, conhecido popularmente na ilha Terceira por “Piécse”, e estava dotada de um pequeno recinto com um palco onde havia um piano para transmissões em directo.
|
A imagem mostra o rádiotécnico português, João Fernando Goulart Bettencourt Pereira Porto, meu pai, responsável pela operação da estação, e o respectivo emissor de 20 watts em manutenção. |
Jornal "A União" nos anos 60. |
Resistor pertencente a meu avô e feito pelo próprio, José Pereira Porto, casado com Maria da Ascenção Goulart Bettenourt Pereira Porto, filha de João Euthymio de Bettencourt , industrial de Laticínios com a primeira fábrina de Queijo de S. Jorge sita em Santo António possuindo máquinas acionadas a vapor. Este Resistor fazia parte integrante de um receptor de galena, feito pelo próprio, e cujo conjunto estava instalado num móvel de madeira, tipo escrivaninha, na sua residência na Vila das Velas, ilha de S. Jorge, na Quinta da Ladeira, Açores, de onde era natural. Haveria de transmitir ao filho a “habilidade” e a atracão pela Rádio e eletrónica. |
Os avós de João Fernando Goulart Bettencourt Pereira Porto. João Euthymio Bettencourt e Maria Laudelinda (conhecida por avó Linda). |
Uma história do U2 nos Açores
U2 era um avião espião de voo em grande altitude (mais de 21.000 metros) construído pela CIA e cujo objectivo era desenvolver operações de espionagem sobre o território da então União Soviética para deteção de bases de mísseis com ogivas nucleares, sem ser detetado e abatido. Lembro-me ainda criança de pela primeira vez ouvir meu pai falar em família acerca deste avião, na perspectiva de desmentir sempre a sua existência lembrando a todos que os soviéticos eram mestres em agitação e propaganda. Uma das histórias que ouvi, contadas já após a sua aposentação, era passada em meados dos anos sessenta na estação de telecomunicações dos Cinco Picos na ilha Terceira. A história iniciava-se normalmente após recordações do papel desempenhado pelos Açores durante a Guerra Fria e a Crise dos Mísseis de Cuba. Lembrava-se meu pai de em dada altura (nunca quis precisar essa data), ter recebido periodicamente instruções seladas e codificadas que lhe chegavam dos Estados Unidos da América e cujo objectivo era operar um “aparelho” electrónico que em data certa faziam chegar àquela estação, protegido por um cortejo de carros da polícia militar norte-americana da Base das Lajes e que era depositado cuidadosamente numa sala à qual mais ninguém teria acesso, excepto meu pai. Assim, após a leitura das instruções recebidas, o procedimento era afastar todas as pessoas do recinto, de modo a não presenciarem a operação do dito “aparelho” resguardado por uma caixa metálica. De seguida e na hora exacta era acionado um botão que punha em funcionamento o “aparelho” que minutos depois fazia um apito rouco, terminando assim em escassos segundos, o que havia começado. A operação limitava-se a isto e a caixa metálica com o dito “aparelho” regressava, novamente sob proteção de escolta da polícia militar norte-americana, á sua origem (provavelmente regressava de avião aos EUA).
Descodificando o evento de acordo com o que ouvi: o “aparelho” era acionado minutos antes da passagem do U2 sobre a ilha Terceira e o objectivo prendia-se com a sincronização do relógio atómico a bordo do avião U2. É sabido, depois de publicada a Teoria Geral da Relatividade por Albert Einstein, que o espaço-tempo curva-se com as ondas gravitacionais dos astros e que o tempo passa mais devagar numa nave á volta do nosso planeta do que o tempo registado á sua superfície. Hoje é prática corrente o acerto dos GPS pelos satélites artificiais que orbitam a Terra, mas naquele tempo, tudo isto era altamente secreto e apoiava ações de espionagem de grande nível tecnológico, muito antes do experimento oficial de Hafele e Keating durante Outubro de 1971.
O mais interessante desta história é sabermos que havia um grande nível de confiança depositada em alguns funcionários portugueses ao serviço dos militares norte-americanos, muito ao contrário do que normalmente se fazia pensar e divulgava. Por outro lado a capacidade técnica existente em território português era muito grande, confirmando o papel de extrema importância que esta região teve e ainda tem nos assuntos de geoestratégia e do espaço.
|
Sputnik e Guerra Fria
A missão Sputnik IV (também conhecida como Korabl-Sputnik-1) foi a quarta missão Sputnik, lançada ao espaço pela União Soviética em 15 de Maio de 1960 do Cosmodromo de Baikonur. Transportando uma carga espectacular para a época de 4.540 kg, representava um passo importante dos voos pré-Vostok nos preparativos da URSS para colocar um homem no espaço. A isto adicionava-se o facto da cabine conter um manequim humano em tamanho natural, o que nos fazia sonhar com voos mais altos.
Em plena Guerra Fria, a contra informação americana, CIA, Rádio América, BBC, fizeram constar que a bordo seguia um russo que se havia sacrificado pelo comunismo. Ainda hoje recordo-me de ter ficado muito impressionado com este assunto e de pensar quão grande deveria ser a força moral destes cosmonautas. Teria pouco mais de 2 anos de idade quando aconteceu a primeira missão Sputnik (4 de Outubro de 1957). Nos anos subsequentes e com mais idade lembro-me de meu pai comentar muitas vezes este acontecimento. Como alto funcionário civil português ao serviço das forças armadas americanas (Navy) estacionadas na Base das Lajes na ilha Terceira, e responsável da maior confiança pela operação da Estação de Comunicações dos Cinco Picos (cujo acesso era vedado ao público), a sua opinião era aquela veiculada pelos serviços secretos americanos: os comunistas sacrificavam tudo e todos para dominar o mundo e a sua política aero-espacial era apenas mais uma ameaça à segurança mundial.
|